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SANTA CATARINA – Evento do MPSC orienta para prevenção e combate ao suicídio

Nesta sexta-feira (1/9), aconteceu a terceira edição do evento “Doenças mentais: falar para prevenir, conhecer para tratar”, na Sede do Ministério Público de Santa Catarina (MPSC), em Florianópolis.

O objetivo do encontro foi tratar do combate e da prevenção ao suicídio, desconstruindo mitos e incentivando o diálogo sobre o tema. Esta edição teve como público-alvo os adolescentes e seus familiares, em razão de temas polêmicos que estiveram em pauta recentemente na mídia e nas redes sociais. Drogas, cyberbullying, o desafio da Baleia Azul e a série norte-americana “13 Reasons Why” foram alguns dos assuntos debatidos pelos especialistas.

A Coordenadora-Adjunta do Centro de Apoio Operacional dos Direitos Humanos e Terceiro Setor, Promotora de Justiça Caroline Cabral Zonta, falou sobre a importância de falar sobre o suicídio. “Quanto mais falarmos sobre o assunto, mais poderemos prevenir. De 10 suicídios 9 poderiam ser evitados se as pessoas tivessem mais informação. Precisamos ter a informação para prevenir para que o fato não chegue a outras famílias. Quanto mais falarmos e incentivarmos que as pessoas busquem ajuda de especialistas, vamos quebrar os tabus e salvar vidas”, disse.

A presidente da Associação Catarinense de Psiquiatria, Lilian Schwanu Lucas, destacou o trabalho da entidade: “nosso objetivo é diminuir o estigma sobre o suicídio para que mais pessoas tenham acesso ao tratamento adequado”, afirmou. “Precisamos lembrar que a mente da gente também é um órgão do corpo que pode adoecer”, disse.

O Subprocurador de Justiça para Assuntos Institucionais do MPSC, Fábio de Souza Trajano, destacou “Infelizmente todos nós vamos conhecer alguém que está com um problema ou nós mesmos podemos estar vivendo algum momento difícil. Precisamos tratar com o assunto com naturalidade, oferecer ou até mesmo pedir ajuda. Abrir as portas do MPSC para a sociedade conhecer um pouco mais sobre esse tema é fundamental para diminuirmos os números alarmantes de suicídio”, disse.

Jovens e as drogas

A primeira palestra foi com o psiquiatra Frederico Duarte Garcia. Ele é especialista em Políticas Públicas sobre drogas. Durante a palestra explicou sobre os danos causados pelo uso de drogas. “Na adolescência, há uma “explosão” de conexão dos neurônios. Desenvolvimento de habilidades e aumento da impulsividade. Qualquer coisa que interfira nas etapas de desenvolvimento do ser humano vai retardar ou impedir que esse desenvolvimento aconteça”, disse.

O psiquiatra reforçou que o uso de drogas danifica o cérebro tornando o jovem mais impulsivo e mais incapaz de tolerar os problemas da vida. “Esse uso também desinibe o medo de se suicidar, o que leva uma pessoa com dependência química a se tornar uma pessoa com mais risco de suicídio”, afirmou.

Para encerrar destacou a importância de prevenir o consumo das drogas. “Quando a gente quer prevenir droga, a gente quer prevenir os comportamentos de risco e o sofrimento mental”.

Suicídio: precisamos falar sobre isso

Em seguida a médica psiquiatra Alexandrina Maria Augusto da Silva Meleiro falou sobre a prevenção do suicídio. De acordo com os dados apresentados, o Brasil está entre os países em que o suicídio cresceu, principalmente entre jovens. A Organização Mundial de Saúde (OMS) mostra que 96% das pessoas que morreram por suicídio tinham um transtorno mental. “Um dos transtornos mentais que mais leva ao suicídio é a depressão e em seguida a dependência química”, disse a psiquiatra.

“Precisamos ficar atentos aos detalhes que demonstram sinais de depressão. A pessoa que dá sinais de suicídio tem o desejo de viver e morrer e é na ‘brecha’ de querer viver é que temos a oportunidade de resgatar a pessoa deste momento depressivo. Precisamos mostrar opções que para cada problema tem uma solução”, enfatizou.

BALEIA AZUL

Alexandrina lembrou do jogo do desafio da Baleia Azul. Esse jogo veio para quebrar a barreira que havia para falar de suicídio. “Trouxe a tona o assunto e assim pudemos falar ainda mais para se prevenir e mudar as estatísticas. A falta de conhecimento do assunto de suicídio entre as pessoas acabou alertando os pais a ficarem mais atentos ao comportamento dos filhos”, destacou.

13 REASONS WHY

A psiquiatra comentou sobre o impacto entre os jovens da série americana “13 Reasons Why”. Apesar de o mote principal ser sobre o suicídio da personagem principal, Hannah Baker, a maior parte das cenas traz o que se passa na cabeça de Clay Jensen. Ele e outras doze pessoas são os alvos das fitas produzidas por Hannah, explicando que eles eram os motivos pelos quais ela se suicidou.

Alexandrina Meleiro explica que, “mesmo sendo apontados como os responsáveis, esses outros adolescentes também foram torturados pelo suicídio da jovem e que se tornaram outras vítimas da situação”.

“Ninguém se suicida por uma razão. É uma complexidade de motivos que leva a pessoa tirar a própria vida”, disse, e é importante que haja ações de prevenção na comunidade. A médica psiquiatra apontou ações midiáticas que fizeram a taxa de suicídio diminuir, principalmente em países com altas estatísticas.

Ela também explicou como as novas tecnologias, em especial redes sociais e aparelhos eletrônicos, poderiam contribuir para que as pessoas tenham mais acesso à informação sobre o tema e como isso poderia levar, assim como ações midiáticas, à redução das taxas.

Prevenção ao suicídio – o papel da família e dos amigos

A psicóloga Luciana Amorim, também mestranda em psicologia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), apresentou a palestra “Prevenção ao suicídio – o papel da família e dos amigos”. Ela iniciou o encontro direcionando sua fala para pessoas que, ao contrário da maioria, não conseguem encontrar motivos para viver.

Segundo a psicóloga, mesmo que as pessoas ao redor mostrem esses motivos, nem sempre elas conseguem enxergá-los, e esse deve ser o foco da atuação na prevenção e combate ao suicídio.

Perceber os sinais e identificar comportamentos típicos, perguntar se a pessoa está passando por um momento de risco e encaminhá-la para tratamento. Essas foram as três ações que Luciana indicou para que se possa ajudar as pessoas em situação de suicídio.

A psicóloga também explicou que a necessidade de atenção que essas pessoas têm não deve ser um motivo para desqualificá-la e deixar de ajudar. “Muitas vezes as pessoas demonstram esses sinais nas redes sociais. Precisamos ter a sensibilidade para entender que as redes sociais podem funcionar como um meio de se comunicar com elas e oferecer apoio”, disse.

Sentimentos de inutilidade, de estar preso, culpa, raiva e vingança são comuns entre pessoas que estão em risco de suicídio, como esclareceu Luciana. Outros fatores são alterações de hábitos, arriscar-se em situações inseguras, colocar assuntos pendentes em ordem.

O que fazer?

Luciana afirmou que perguntar se a pessoa quer se matar pode ser difícil, mas que é uma atitude que pode salvar vidas. Muitas vezes, quem oferece ajuda não sabe o que falar, e a psicóloga assegurou que isso não é um problema. “Alguém em situação de suicídio não precisa, imediatamente, ser convencido de que há motivos para viver. Apenas saber que existe apoio e pessoas que se preocupam pode ser o suficiente para evitar a morte”, explicou.

Depois da palestras, os especialistas participaram de um painel para responder as peguntas do público. O evento é promovido pelo Ministério Público de Santa Catarina, por meio do Centro de Apoio Operacional dos Direitos Humanos e Terceiro Setor e Centro de Apoio Operacional da Infância e Juventude, organização do Centro de Estudos e Aperfeiçoamento Funcional (CEAF) com o apoio da Associação Catarinense de Psiquiatria (ACP).

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